Só pra me lembrar...
Há 7 anos
" Laura, muito me dói...somos duas estrelas ,duas faixas paralelas ,uma moeda ,e digo mais ,nao duas vidas ,mas uma so ,divididos por um mundo intrigante... ao qual mesmo querendo se unirem, não conseguem. Por que isso tudo? Por que toda essa confusão de sentimentos e este medo que nos assola? Será se você nao vê em meus olhos o tanto que guardo de mim para você...? Cada minuto que passa, cada dia que se acaba, eu me vejo mais ligado a ti, e tu está tao distante, tao ausente como quem foge, como quem nao quer isso tudo e eu me sinto mal por isso...me sinto culpado e cada vez mais minhas penas caem. Eu me decomponho em sua frente e você só assiste, será se tomar uma atitude seria tão ruim assim? Me salve, Laura. Viva comigo e me faça sentir vivo. Me faça ver propósito atras disso tudo. Renda-se. Yan" Quando terminei de ler chorei, então ele saiu do espelho,não poderia deixar de lhe dizer o quanto seus olhos eram lindos,o quanto eram instigantes e apaixonantes. Só entao entrando em contato direto com aqueles olhinhos pude sentir... E em um misto de alegria e surpresa,disse bem baixinho pra ele: - Cante para eu dormir,cante para eu dormir, estou cansada de acordar sozinha,cante para mim,cante para mim...
Fomos para casa em silêncio, suas palavras me fizeram ver que ele realmente tinha razão, mas o mundo em que vivo nao condiz com este pensamento dele. Uma parte das garotas de hoje são mesquinhas, ousadas, metidas, desvalorizadas e doentes, uma doença que se chama "Síndrome da Barbie". Mas eu sempre gostei mais da "Susy"...uma versão bem mais gordinha e bochechuda.
12ª PENA CAÍDA
A forma como ele agia, tudo nele me irritava... mas no fundo eu sabia que era o que eu estava sentindo que me irritava tanto. Sempre evitei me apegar muito a alguem com medo de me magoar, e agora eu via que talvez a presença de Yan em minha vida, era para me ensinar a ter sentimentos outra vez, pois meu coração se tornara frio e inabalável, do tanto que eu ja sofrera. Depois de um tempo eu havia descoberto como chorar em silêncio e sofrer silenciosamente e isso me tornou mais forte nas minhas coisas, quase nada me abalava fortemente oara me fazer desabar, nos olhos dos outros, eu havia me tornado apenas mais humana... mas aos meus olhos eu apenas me tornara mais insensivel e por vezes me assemelhava a um vegetal, não toca, não sente, não vive, vegeta. Até os animais ditos como irracionais, sentiam mais dor e carinho do que eu, muitas das vezes eu fingia uma certa felicidade falsa, mas aquilo tudo já nao me comovia tanto. Viver já era tão monotomo.
- Yan, já me decidi... Não te abandonarei ... estou com você, não me decepcione! - sussurei e escrevi no espelho com um pincel que estava em minhas coisas, senti que de alguma forma seu olhar se lançava para mim. Após escrever, mais uma pena estava no chão...eu tinha que fazer alguma coisa para que ela parasse de cair, mas no momento só me restava assistir ele se decompor...
- Alô? - atendi o celular. - Laura, sou eu amiga! - falou a voz do outro lado da linha. Minha amiga ha anos, como eu me sentia bem com ela, confiava minhas coisas, mas a distância muito nos separou fisicamente e algumas coisas já nao tinha mais tanta graça... - Oi Bianca!Tas bem? Que saudade! - To bem sim,linda.E voce? Saudade nada, nem me ligou mais.Só no acontecido com sua avó - sua voz parecia criar um clima de pena, me senti mal. - Bia, eu nao quero ser chata amiga, mas to fazendo o almoço e tu sabe como sou pessima cozinheira... - menti,pois apesar de estar realmente cozinhando, eu nao cozinhava tão mal - Eita amiga, desculpa, nao se preocupe, sei que sua mae nao esta. Te amo muito ta? Te cuida,depois me liga,beijao - disse-me, esperou eu dizer o mesmo e desligamos. Desde quando Bianca foi embora para morar com o pai em Portugal, senti que um pouco dela havia mudado e muitas das vezes sua voz transparecia coisas que não me faziam bem. Ela era minha melhor amiga, mas aos poucos também se tornava a pior. Não estava mais contando tudo que me acontecia e um pedaço de mim já se despedia dela aos poucos. Na cidade eu já havia arrumado novos amigos e ela ainda continuava a melhor amiga, mas já nao era a mesma coisa, tudo muda, e a nossa hora havia chegado. Depois que falei com ela e tive um replay de tudo que já haviamos passado e em tudo no que estavamos nos tornando, eu fui arrumar o quarto, mas quando entrei dei de cara com Yan ( como assim se definira). - Você pelo menos poderia avisar que está aqui! - emburrei. - Você já está acreditando em mim então? - seu rosto parecia triste, como quem passou horas chorando - Laura, o tempo que passo na terra faz com que minhas penas caem,cada dia que estou aqui é como se fosse capítulos de um livro que no final fazem parte de toda uma história... eu sou feito por minhas asas, tenho medo delas terminarem de cair, e minha historia acabar .Sinto medo, Laura, muito medo.Por favor, não me deixe... fica comigo,por favor... me sinto só.Apenas vivo quando estou com você... não me leve a mal, mas quando te vejo de olhos fechados a durmir, eu saio do espelho e sento no tapete do quarto e fico te desenhando no céu... você dorme com a janela um pouco aberta e dá para se ver lá fora, então fico te desenhando nas estrelas, compondo canções para cantar pra você e treinando para saber o que vou falar quando estiver frente a ti, pois até parece impossível nao gaguejar. Sou um anjo preso a uma humana que de uma forma ou de outra controla minha existênica, pois só existo quando estou contigo... e agora vejo que mesmo sem você, eu só viveria se um dia te encontrasse... não sei o que está acontecendo - denunciou. Aqueles olhos me penetraram o ventre e vieram me devorando tudo e como quem nao quer nada entrou em meu ser e me tomou por inteira, sua mão tocou meu rosto e eu senti que ele não me machucaria nem com palavras... senti ódio do jeito que ele falava comigo, senti raiva de estar me envolvendo naquilo tudo. Será se eu não poderia ser mais besta? Me apaixonar por um anjo era o caos que me faltava. Mas tudo nele me envolvia e me deixava fora de mim.Ele era o tipo de cara que eu odiava gostar, mas que mesmo sem querer, já estava gostando.
Aproximou-se mais de mim, tão perto que achei que ia suspirar a conversa, mas qando viu meus olhos assustados, logo recuou um pouco e se sentou bem de frente a mim. Ele parecia procurar as palavras certas, achei graça de seu jeito tímido de olhar para baixo e colocar a mão atras da nuca, como quem procura as palavras certas.Me fez rir, ele se acanhou mais, deu um risinho sem graça tambem e olhou de lado para mim...seus detalhes eram tão lindos, as curvas de seus cabelos, a cor de suas maçãs, me deixei levar admirando-o, até voltar a realidade com ele falando: - Meu nome é Yan , anjo eu era até invejar a vida dos humanos,então deixei de ser o que eu era, um anjo não pode ter tais sentimentos e se eu os tava tendo, então era porque parte de mim já estava se tornando humano.Antes ninguem me via, hoje só posso ser visto quando eu estiver com você, enquanto eu não estiver com você ficarei no seu espelho...pode parecer estranho, mas o que é estranho num mundo onde pai já mata filho?onde o amor se torna obsessivo e passa a ferir a pessoa que se dizia amar? mulher trai marido, filha mata pai, homem mata idoso por dinheiro, meros centavos valem a vida de alguem? O que é normal para vocês? Só o que é bom é anormal...isso eu já percebi, se alguém é muito bondoso já é visto com más olhos, se ajuda alguém ta querendo alguma coisa, se dá quer em troca, quando se preocupa é careta....!!!! Por que o que aconteceu comigo seria anormal?Por que será dificil acreditar no que digo? Fico no espelho, mas quantas pessoas tambem nao vivem num mundo onde so conseguem ver a si mesmas, o seu proprio reflexo?Quantas nao se escondem em algum lugar e pedem para sumir? Isso não se pode considerar um espelho? As pessoas so vão me ver quando eu estiver com você, pois nao sei porque eu vim parar no seu quarto...sendo assim,estou preso a você.Se tudo tem um propósito, nao seria diferente agora - confessou e abaixou a cabeça, me permitindo ver seus fios de ouro reluzindo na luz. Me sentia confusa, mas tudo o que ele disse de alguma forma fazia sentido para mim. - Laura,não me deixe só - pediu.
Para um dia de fim de março,o tempo parecia bastante fresco.Voltei para casa no fim do dia. Já ía fazer um mês desde que mãe viajou e eu continuava a cuidar da casa.Todos pareciam silenciosos ultimamente...Pai trabalhava o dia todo e só chegava depois das 18:00,ele logo tomava banho, lanchava, ficava um pouco pela casa e logo ía durmir, o Miguel acordava tarde, ía para a escola, voltava, estudava...confesso que sua presença era falha, mas desta vez eu agradecia, pois não queria muito diálogo. -Sei que sou um pouco calado,e passo o dia trabalhando, mas saiba que eu te amo muito e voce sempre será minha princesinha...papai, ama muito você. E nao importa o que aconteça, sempre estarei com você...confio em você... - no seu rosto lágrimas nao se conteram, acho que era a primeira vez que ele desabafava depois da viagem de mãe.Chorei tambem, precisava muito daquilo.Depois que conversou comigo, ele falou com meu Miguel e pediu para que ele me ajudasse nos afazeres de casa, até porque eu também tinha que estudar, a faculdade estava de greve,mas logo voltaria ao normal.Precisaria de ajuda,mas eu já via uma luz nisso tudo,as coisas estavam tomando os seus lugares. -Lalá...ajudarei mais - falou com a cabeça mais baixa- Me diga como te ajudar, que ajudarei...desculpa - Miguel falou e me abraçou. Minha família voltava de um poço muito fundo...mas como eu já havia dito,somos fortes.
Quando amanheceu, nao o vi mais, mas seu cheiro continuava no quarto...impregnado na minha roupa.Meus olhos estavam inchados, a claridade estava me irritando,mas me sentia mais calma, mais aliviada, uma paz me invadira e eu queria apenas dar uma volta.
Arrumei as coisas, como todos os dias, deixei o almoço pronto e sai sem rumo a pensar o que antes poupei fazer...
-Quem era ele?O que fazia ali?Como entrou no quarto?Como apareceu de repente na minha frente?Por que se preocupou tanto comigo?Por quê?Por que confiei tanto? .... E para onde ele foi? - pensei nisso tudo e cheguei até a me indagar com a voz meio alta...
Andei até o parque aqui proximo e me deitei em um dos bancos.
- Oi Laura! - uma voz distante falou, um pouco cansada e ofegante mas reconheci.
- Oi Guí...está bem?- perguntei sem a mínima animação, queria ficar sozinha, pensar só...não queria alguém me enchendo a paciência.
-Acho que melhor que você, sem querer ofender, mas não estás com a cara muito boa.
-Sério? Nao me diga! - só pensei...minha ironia era ótima, mas minha educação ainda falava mais alto em algumas situações.-Não estou bem, mas tudo passa-disse.
-Será se voce nao quer ir lanchar comigo?-perguntou sem rodeio.
Guilherme,chamado por mim de Guí, era o tipo de garoto que encantava as meninas.Sua altura passava uma proteção a qualquer uma,sua voz trazia segurança,seus cabelos caiam sobre a testa com fios pretos e lisos,seu peitoral fazia com que as mulheres mais velhas o quisessem e o seu rosto era perfeito.O fato dele não me atrair tanto, era que ele era apenas uma capa de revista bonita que chamava a atenção, mas não havia reportagens inteligentes dentro da revista, porém havia fotos de academias de malhação, garotas anoréxicas obedecendo a mídia do corpo perfeito e carros caros.
-Não quero lanchar-fui honesta.
Eu estava precisando tanto de alguém naquele momento, que a sua presença ali, nao me levou a lhe fazer um questionário de perguntas, mas apenas deixar-me levar.
-...Quero ir embora daqui...quero fugir, sei lá!! Quero sumir!! É isso o que eu quero, quero sumir!!! Me sinto cansada...me sinto só. Há amizades que só conseguem enxergar seu próprio umbigo, não respeitam minha dor, meu Luto e ficam me falando de seus probleminhas com garotos fúteis, ao invés de tentarem ver o que carrego ultimamente!!Eu não quero saber disso, eu quero chorar, gritar... você acha que eu quero saber num momento como esse, o porquê de fulaninho não querer cicraninha? Você acha que eu quero um abraço fraco de pêsames e uma frase clichê como "Fica assim nao", "Deus precisa das pessoas boas", "Seja forte, isso irá passar, é só uma questão de tempo", " Talvez seja melhor assim",... eu não quero ouvir coisas assim, eu quero apenas que alguém fique calado e compartilhe comigo este momento doloroso. Já estou há 3 semanas assim, minha mãe ainda está viajando, meu irmão não é muito emocional,mas está se esforçando, e meu pai chora de noite no quarto em silêncio. Me diga, só os pêsames basta nessa hora? - desabafei. Ele sentou do meu lado, encaixou minha mão na dele e me olhando fundo com seus olhos penetrantes, me disse: -Estou aqui agora.
Encostamos na parede, fechamos os olhos e ficamos sentindo o vento soprar em nossos rostos. A mão dele me fez sentir em paz, ele poderia me levar para um aprisco que eu não perceberia, pois confiaria de olhos vendados. Sua voz veio como uma melodia aos meus ouvidos. Durmi encostada em seu ombro.
O mês de março foi terrível diante dos nossos corações de Luto, e por eu estar sem minha mãe por perto para poder abraçar, foi terrível.
Mal durmi e o dia já raiou, senti os raios em meu rosto e me senti incomodada. Estava com muito sono, mal durmi... estava estranha. Quando cheguei na sala, minha mãe estava chorando, fiquei espantada:-O que será que havia ocorrido?O que estava acontecendo?- me perguntava em uma fração de minutos. Não precisei perguntar, minha expressão sincera já dizia tudo, ela economizou perguntas e logo disse: -Vou para casa de sua vó hoje mesmo.Ela não está bem.- suas lágrimas já penetraram em minha pele como uma faca me cortando o coração, senti uma dor e uma ponta de desespero. -O que foi desta vez?- perguntei sem querer esperar pelo pior, mas nossa mente não nos permite sermos mais otimistas. - Laura, você vai ter que cuidar da casa sozinha e da nossa família...confio em você.-e as lágrimas se tornaram mais fortes neste momento. Senti que a angústia que eu estava sentindo de noite, era algo envolvendo minha avó. Mas agora não era momento de falar sobre isso, eu tinha que ser forte, ou pelo menos fingir. Minha mãe sempre foi muito batalhadora, e sempre quis o melhor para todos ao seu redor, característica que meu pai sempre apresentou também e acho que isso nossa família tem de forte. Sempre fui muito apegada a meu pai, mais do que com minha mãe, mas as qualidades dela como MÃE me surpreendiam...Como ela era forte!Ao contrário de mim e meu pai, que sempre fomos tão frágeis e crentes em um mundo imaginário escondido na leitura dos livros de ficção. Toda essa notícia de viagem, abalou meu mundo, essa idéia de cuidar de tudo sozinha me levou a esquecer um mundo tão fantasiado e falso, e querer olhar mais para o mundo em que eu vivia, ao qual era mais parecido com um livro trágico, decepcionante e de capa feia.As malas estavam sendo preparadas, ela já havia visto os horários e daqui a pouco já iria embarcar. Senti dor na hora da despedida. Mas, ao contrário da ligação que receberíamos mais tarde, a minha despedida era por um tempo, e nao pelo resto de minha vida...como ocorreu com minha vó.
O mês ficou marcado com este acontecimento,era mês de Luto.
Já era tarde quando me deitei para dormir. Desliguei a luz, mas o quarto ainda ficava iluminado pela luz da rua que entrava pela fresta da janela. Estava frio. Senti que no quarto havia alguém mais...mas assim como quando eu era criança e ficava imaginando coisas no quarto, imaginei ser o mesmo. Só que eu já tenho 19 anos, certas manias minhas deviam ter acabado.Medo do escuro é normal, mas idealizar monstros no quarto já me fazia sentir como uma idiota. Respirei fundo.Sabia que não era o Fredy Gruger e nem o Jason, até porque o medo que eu tinha deles se esgotou há muito tempo. O que havia no meu quarto era diferente e me trazia uma pertubação incomum, como se me roubasse a paz e pertubasse meu sono...como se quisesse me fazer prender em um daqueles pesadelos que queremos acordar mas nao conseguimos. Senti medo, muito medo.